lunes, 10 de noviembre de 2025

Sociedade de Geografia de Lisboa, 10 de novembro de 1875-10 de novembro de 2015

 Completam-se hoje 150 anos da fundação da Sociedade de Geografia de Lisboa, instituição a  que tenho o prazer de pertencer há mais de 40 anos, integrando a Secção de Ordenamento do  Território e Ambiente (antes, Ecologia). Como noutros países e como se apressa a reconhecer Horário Capel (1981, p. 173), a SGL congrega e fortalece a corrente “imperialista” da sociedade portuguesa, desde logo as elites da capital (em alternativa a uma leitura mais europeísta, sobretudo de elites universitárias). Não por acaso, a Sociedade fundada por Luciano Cordeiro logo patrocina as expedições africanas de Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens; nela decorreram os Congressos Coloniais (tendo por grande animador Silva Teles, primeiro professor universitário português de Geografia), nela se fundou a Escola Colonial, percursora do atual ISCPS. Mas não se esgotou aí a atividade de campo da SGL: recordo a expedição à Serra da Estrela, em 1881 (aprofundar o conhecimento geográfico, em geral, uma outra dimensão das sociedades).

A Sociedade de Geografia de Lisboa teve um papel decisivo no ensino e no ensino de Geografia, em particular: o seu Parecer nº 1, de 1876, é precisamente sobre o ensino. Foi-lhe dada tanta importância que o Parecer foi traduzido e publicado também em francês. Aí se reclama a independência da disciplina de Geografia – era precisa doutrinar os jovens portugueses numa perspetiva colonial. Em Portugal, a autonomização da disciplina de Geografia em relação à de História ocorrerá na reforma liceal de 1888 - rompendo com a tradição escolar francesa, que nos inspira diretamente.

Congregando uma burguesia vanguardista da época (recordo que Luciano Cordeiro e um seu irmão são os fundadores da empresa CARRIS), a SGL está na origem de outras instituições, como o já referido ISCPS ou o Automóvel Clube de Portugal. Hoje a Sociedade de Geografia de Lisboa atravessará a sua mais profunda crise interna.

Enquanto sócio, aguardo uma rápida revisão dos estatutos que permita a realização de eleições a que possam concorrer as listas de sócios que o desejarem e os respetivos projetos, como em qualquer outra instituição. Simples. A Sociedade de Geografia de Lisboa ainda tem muito para dar, numa visão renovada do seu papel em Portugal.

Sérgio Claudino

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